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Como as grandes marcas estão usando o PPA para crescer com margem
9 de set. de 2025
Quando se fala em rentabilidade, é comum olhar primeiro para preço, canais ou política comercial. Essas análises são válidas, mas você pode estar procurando a coisa certa, no lugar errado.
E se o ponto de partida estiver em outro lugar, na forma como a empresa estrutura seu portfólio de produtos, embalagens e preços para diferentes contextos de compra?
É aí que entra a Price Pack Architecture (PPA).
Mais do que uma questão de mix, a PPA define o que será vendido, em que formato, por quanto e para quem. Neste artigo vamos ver como e porque a PPA afeta diretamente decisões de:
Precificação ao consumidor;
Margens por canal;
Modelos de negociação com o varejo;
ROI de ativações promocionais.
A PPA tem esse poder porque atua como estrutura-base de decisão. Quando bem desenhada, ela equilibra margem, volume e proposta de valor com clareza. Quando negligenciada, vira a raiz invisível de problemas como:
Produtos canibalizando entre si;
Embalagens descoladas do canal em que atuam;
Tabelas de preço desalinhadas com o que o consumidor está disposto a pagar.
Por isso, tratar a PPA como um ponto de partida estratégico, e não como mera consequência de decisões de marketing ou trade, é o primeiro passo para recuperar rentabilidade de forma sustentável.
Fragmentação do consumo: o que mudou não foi o bolso, foi o contexto
O paradoxo que a PPA precisa resolver: pesquisas indicam que, por um lado, os consumidores estão cortando gastos e, por outro, estão dispostos a pagar mais (desde que o produto faça sentido para eles).
Esse aparente paradoxo é, na verdade, um reflexo da fragmentação do consumo.
O que mudou não foi o valor percebido, nem a renda disponível: foi o contexto de compra.
A mesma pessoa que economiza no abastecimento do mês pode pagar mais por uma solução de conveniência, por praticidade no dia a dia ou por um presente de maior valor simbólico.
Esse deslocamento exige uma leitura mais sofisticada das decisões de compra.
A resposta está no conceito de missão de compra: entender não apenas quem compra, mas por que, quando e em qual situação. Cada missão tem um nível distinto de disposição a pagar, e exige uma combinação específica de pack, preço e canal.
O framework apresentado no webinar divide as principais missões em quatro grupos:
Missão | WTP | Foco | Embalagem típica | Exemplo |
Abastecimento | Baixo | Custo-benefício | Packs econômicos | Arroz 5kg, detergente 2L |
Acessibilidade | Baixo | Desembolso mínimo | Packs pequenos | Sabonete unitário, biscoito pacote pequeno |
Conveniência | Alto | Solução imediata | Packs individuais | Bebida pronta 200ml, snack individual |
Valor/Premium | Alto | Benefício funcional/emocional | Packs premium | Chocolates finos, cosméticos dermo premium |
Compartilhamento | Médio | Consumo coletivo / ocasiões sociais | Packs familiares ou multipacks | Refrigerante tamanho família |
Experimentação | Variável (baixo a médio) | Testar produto / primeira experiência | Amostras, miniaturas, formatos single-serve promocionais | Sachet de shampoo, mini bebida alcoólica |
Sem esse tipo de leitura, a PPA vira apenas um exercício de planilha: decide-se o sortimento olhando volume histórico, margem por SKU ou cobertura de canal. Mas isso deixa de lado a conexão com o momento de uso ou com a lógica de valor percebido pelo consumidor.
Entender as missões de compra não é uma etapa de branding ou shopper marketing. É o primeiro passo para destravar decisões concretas de arquitetura de portfólio, definição de preços e execução por canal.
Resultados vêm de métodos: converta o OBPPC em valor prático
O OBPPC é um framework que ajuda a operacionalizar a PPA, organizando o portfólio a partir do comportamento real do consumidor.
Quando aplicar o OBPPC
O OBPPC deve ser usado quando há sinais de mix confuso (papéis de embalagem sobrepostos), canibalização interna ou lacunas de preço/ocasião. Ele antecipa decisões que depois serão detalhadas em papéis de embalagem, diagnósticos e redesenho de portfólio.
Como aplicar
Mapear ocasiões relevantes por categoria e canal (sem priorizar ainda)
Rabiscar papéis candidatos para cada ocasião (entrada, frequência, premium)
Definir faixas de preço-alvo ligadas a cada papel, preparando o terreno para o teste de price ladder
Levantar hipóteses por canal/cliente, reconhecendo que sortimento e preço devem variar conforme contexto e WTP.
Anotar dependências com política e promoção, sem definir regras agora.
Ganhos esperados do OBPPC
Benchmarking de concorrentes: enxergar onde outras marcas capturam valor.
Clareza de papéis para embalagens, evitando sobreposição e conflito interno.
Identificação de whitespace: tamanhos, faixas de preço e canais ainda não explorados.
Melhoria na comunicação e marketing: usar a ocasião como base para ativação mais direcionada.
Portfólio otimizado por canal: giro mais saudável, margens mais altas e proposta de valor mais clara.
KPIs de sustentação
Margem e giro por papel/ocasião;
Uplift vs. base em canais-teste;
Penetração de pack por missão;
Contribuição de mix (quanto vem de premium vs. entrada).
Elasticidade por faixa de preço
Trade spend ROI por papel de embalagem
Ao reconhecer essas diferenças, a empresa deixa de operar com um portfólio genérico e passa a construir combinações específicas para cada canal e missão. O resultado é um sortimento mais estratégico, rentável e aderente à realidade de consumo.
OBPPC é, portanto, um tradutor entre o que o consumidor faz e o que a empresa oferece. E é esse alinhamento que dá sustentação para a PPA deixar de ser apenas uma estrutura estática e se tornar um motor de resultado.
Além disso, OBPPC não é teoria de prateleira: é um fluxo de decisão que traduz comportamento em sortimento, preço e canal, e por isso antecede promo e política.
Como diagnosticar falhas na sua PPA atual?
Uma PPA mal estruturada deixa marcas visíveis. E não são detalhe, são sintomas que drenam margem e complexidade todos os dias.
Acompanhe três formas objetivas de diagnosticar se a arquitetura atual está saudável ou se está sendo corroída por excesso de SKUs, canibalização interna e desalinhamento preço–valor.
1. Mapa de preços (curva preço × volume)
A curva ideal deveria ser suave, cobrindo diferentes pontos de disposição a pagar. Quando surgem buracos (gaps de cobertura), faixas de preço sem nenhum SKU, a empresa deixa dinheiro na mesa. Já quando há sobreposição (clusters de SKUs) em uma mesma faixa, vários itens competem entre si, canibalizando margem.
Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: uma price ladder ilógica, que gera perda de eficiência: seja porque o consumidor migra para outra marca, ou porque a própria empresa estimula uma guerra interna.
2. Matriz de desempenho (margem × giro)
Ao cruzar margem e giro, fica evidente quais SKUs são estratégicos e quais são um problema.
Os produtos no quadrante de “dreno” (baixo giro e baixa margem) são os chamados zumbis: não vendem, não dão lucro, mas consomem tempo, esforço e custo de operação. Esse excesso de cauda longa cria portfólios inchados, difíceis de gerir e que obscurecem o que realmente gera resultado.
3. Teste de redundância (price ladder)
A escada de preços deveria mostrar evolução lógica entre tamanhos, packs e benefícios.
Quando dois produtos ocupam degraus muito próximos sem desempenhos distintos, eles acabam competindo entre si. Isso indica redundância: embalagens sem papel claro, confundindo o consumidor e canibalizando margem em vez de expandir cobertura.
Esses três testes transformam a avaliação da PPA em um checklist objetivo. Mais do que números de venda isolados, eles revelam onde o portfólio perdeu foco, onde há canibalização silenciosa e onde a arquitetura não conversa com a lógica de valor do consumidor.
É o diagnóstico que prepara o terreno para redesenhar a PPA de forma enxuta, coerente e rentável
Roadmap para redesenho de PPA
Priorizar missões, polarizar portfólio e equilibrar trade-offs
O diagnóstico só faz sentido se levar a decisão. E redesenhar a PPA significa justamente colocar as escolhas na mesa: quais missões devem ser priorizadas, quais embalagens precisam ser escaladas e quais SKUs devem sair do jogo.
Três movimentos tornam esse redesenho possível:
Priorizar missões
Nem todas as ocasiões têm o mesmo peso em rentabilidade ou relevância estratégica. O primeiro passo é decidir em quais missões a empresa vai concentrar foco: seja no abastecimento, na conveniência ou no premium, e alinhar o portfólio a essas prioridades.Polarizar o portfólio
Os extremos são mais claros: produtos de entrada, com papel de recrutamento, e produtos premium, com maior margem.
O risco está no meio, onde muitos SKUs competem sem papel definido. A polarização ajuda a reforçar o que gera resultado e a eliminar a zona cinzenta dos “médios”.
Equilibrar trade-offs
Cada escolha tem custo. Reduzir cauda longa libera recursos, mas pode afetar cobertura.
Reforçar premium aumenta margem, mas exige coerência em execução e comunicação. O redesenho não elimina dilemas, ele obriga a tratá-los de forma consciente e alinhada.
O redesenho da PPA é, portanto, o momento de clareza: decidir o que escalar, o que simplificar e o que matar. Sem esse corte, a empresa volta a girar em torno de um portfólio difuso, que serve a todos e, no fim, não atende plenamente a ninguém.
Blindar a estratégia com política comercial e governança
Sem alinhamento, a PPA não se sustenta
Mesmo o melhor redesenho de PPA pode ser desmontado em semanas se não houver coerência entre política comercial, trade e finanças.
O problema não está no conceito, mas na execução: descontos concedidos sem critério, contratos que premiam volume em vez de rentabilidade e incentivos que empurram o vendedor a defender apenas o giro imediato.
Esse desalinhamento funciona como um dominó: basta uma peça fora de lugar para que toda a arquitetura perca força.
Produtos definidos para premium podem ser corroídos por descontos excessivos; embalagens de entrada podem ser empurradas em canais onde deveriam ter sido preservados margens maiores.
A única defesa real é a governança. Isso significa alinhar incentivos entre vendas, finanças e estratégia; dar transparência às métricas que sustentam a rentabilidade; e criar regras claras que evitem exceções virarem regra.
Quando o comitê executivo compra essa agenda, a PPA deixa de ser apenas uma recomendação de pricing e se torna política de negócio.
Blindar a PPA, portanto, não significa apenas proteger embalagens ou tabelas de preço. É sobre proteger a lógica de captura de valor contra atalhos de curto prazo.
Sem governança, tudo volta ao status quo; com governança, a PPA se torna sustentável no tempo.
Também podemos falar de um risco clássico e que está nas promoções desalinhadas com os papéis de embalagem. Quando packs premium entram em desconto constante, a lógica se inverte: em vez de reforçar valor, eles passam a disputar recrutamento com itens de entrada.
Isso destrói a escada de preço e confunde o consumidor, corroendo margem e diluindo o papel estratégico de cada SKU. Governança, nesse caso, significa garantir que cada embalagem cumpra sua função (de recrutamento, frequência ou valor) sem ser comprometida por incentivos de curto prazo."
Conclusão: PPA é rentabilidade disfarçada de embalagem
A PPA não é um detalhe tático de marketing nem um exercício de trade. É a engrenagem invisível que conecta portfólio, preço, canais e execução comercial. Quando bem desenhada, organiza a lógica de captura de valor e transforma margem em decisão estratégica.
O caminho é claro:
Enquadrar a PPA como ponto de partida, e não como consequência.
Ler a fragmentação do consumo e mapear missões, traduzindo contexto em disposição a pagar.
Converter OBPPC em prática, alinhando ocasiões, marcas, packs, preços e canais.
Diagnosticar falhas, expondo canibalização, redundância e cauda longa.
Redesenhar com foco em priorização, polarização e trade-offs conscientes.
Blindar a estratégia com governança, evitando que política comercial e incentivos desfaçam todo o trabalho.
No fim, a PPA é sobre escolhas: o que escalar, o que simplificar, o que cortar.
Um risco clássico está nas promoções desalinhadas com os papéis de embalagem. Quando packs premium entram em desconto constante, a lógica se inverte: em vez de reforçar valor, eles passam a disputar recrutamento com itens de entrada. Isso destrói a escada de preço e confunde o consumidor, corroendo margem e diluindo o papel estratégico de cada SKU. Governança, nesse caso, significa garantir que cada embalagem cumpra sua função (de recrutamento, frequência ou valor) sem ser comprometida por incentivos de curto prazo.